sexta-feira, 11 de fevereiro de 2011

Barco abandonado de Fernando Pessoa.

Não será certamente este o barco de Fernando Pessoa, mas, é o barco de alguém, e esse alguém, fartou-se de ir sem nada e voltar com menos, assim, ficou abandonado, como quase tudo neste País ...


Nota: fotografia tirada com telemóvel.






A Minha Vida é um Barco Abandonado



A minha vida é um barco abandonado 

Infiel, no ermo porto, ao seu destino. 

Por que não ergue ferro e segue o atino 

De navegar, casado com o seu fado? 


Ah! falta quem o lance ao mar, e alado 
Torne seu vulto em velas; peregrino 
Frescor de afastamento, no divino 
Amplexo da manhã, puro e salgado. 

Morto corpo da ação sem vontade 
Que o viva, vulto estéril de viver, 
Boiando à tona inútil da saudade. 

Os limos esverdeiam tua quilha, 
O vento embala-te sem te mover, 
E é para além do mar a ansiada Ilha. 

Fernando Pessoa, in 'Cancioneiro'

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